Pediram-me para fazer um pequeno testemunho sobre o Rumos… Bem, logo à partida eu vejo dois grandes problemas com este pedido: o primeiro é que me pedem para fazer um pequeno testemunho e eu não sou conhecido por falar pouco. O segundo é que não sei mesmo o que dizer… Sim, toda a gente diz isto, é um cliché, mas a verdade é que o Rumos foi/é para mim tanta coisa que não sei mesmo por onde ir.
Como não sei o que dizer vou começar a contar um bocadinho da minha história. Eu sou do tempo do Rumos 1 (este é o 10!). Vim ao Rumos porque uma Irmã do Carmelo de S. José enviou um mail ao meu pároco a perguntar se não tinha ninguém que pudesse mandar para uma atividade que ia acontecer em Fátima, logo a seguir ao ano novo. Eu que dizia sucessivamente que não a todo e qualquer retiro que o meu pároco me propusesse; eu que não sabia o que eram os Carmelitas; eu que nunca tinha visto um Carmelita nem mais gordo nem mais magro; eu que não era pessoa de andar por aí a passear; bem, providencialmente, disse que sim. E vim! E foi a melhor coisa que fiz.
Uma caraterística inexplicável, mas claramente vivida por toda e qualquer pessoa que vem ao Rumos, é o sentido de família e de amizade que tão facilmente acontece. Posso dizer (e de notar que não sou lamechas!) que vim com uma amiga ao Rumos e quando me fui embora levava comigo muitos mais.
Eu vim ao Rumos à procura da minha vocação. Tinha então terminado o meu curso superior e esse era o momento oportuno para um tira teimas que vinha adiando. Em abono da verdade, eu não posso dizer que vinha à procura da minha vocação: a minha vocação estava decidida, estruturada e perfeitamente delineada por mim: eu só vinha era à procura de confirmação (se calhar de uma palmadinha nas costas, do género: isso mesmo, segue em frente). Quando cheguei fui muito bem recebido, experimentei aquele ambiente familiar de que falei (de notar que eu nunca tinha visto ninguém desta gente, nem mais gordos nem mais magros). A manhã foi extraordinária: quando fizemos o primeiro intervalo eu estava, psicologicamente esgotado. Mas não era um cansaço negativo, bem pelo contrário: tinha-me sido apresentada tanta riqueza, tantas opções, tanta coisa que fazia tanto sentido na e para a minha vida… A partir daquele momento a minha vida deu uma volta. As certezas que eu tinha caíram por terra. TODAS! Mas como eu sou extraordinariamente teimoso não o queria admitir.
Esse Rumos foi um espetáculo. Muito simples, muito familiar, mas foi algo tão incrivelmente novo para mim, algo vivido com tanta intensidade que se tornou maravilhoso. Mas a amiga com que eu vim teve de sair mais cedo, pelo que eu não fiquei até ao fim. Perdi dois grandes momentos do Rumos: a missa e o recreio de domingo. Quando ia no autocarro para baixo (eu sou de Lisboa) ia a conversar com a minha amiga como as coisas tinham sido fantásticas, como aquilo veio mesmo a calhar para nós os dois, etc.
A vida continuou, mas o que vivi no Rumos não desapareceu. Do Rumos eu levei algo muito importante: o desejo da oração. Aliás, permitam-me um aparte para contar um historieta que aconteceu aqui à tempos: um Padre desta casa (convento carmelita de Fátima), de quem eu gosto muito, uma vez disse-me: “repara em fulano e sicrano; vem à missa e depois ficam em oração, não se vão logo embora, não começam na conversa… mais não seja, o Rumos já vale muito só por isto, por pôr as pessoas a rezar”. Sim, o Rumos mais não seja tem esta virtualidade grande: o passar-nos o gosto pela oração. E isso aconteceu comigo. Eu, como me tinha sido proposto, dei por mim a fazer um quarto de hora de oração pela tarde. Todas as tardes. Depois, o quarto de hora passou para meia, de depois para uma hora!
Desejo de oração – check! Mas aquelas pessoas extraordinárias que nos pregaram o retiro, dispuseram-se para conversar enquanto não viesse o Rumos seguinte. E, como eu tenho muito pouca vergonha, aproveitei logo – eu usei preferencialmente a via e-mail. Nestas conversas, aquilo que eu não queria crer, foi-me sendo mostrado e eu fui-me deparando com uma realidade cada vez mais inevitável: os meus planos eram para deitar ao lixo, porque Deus tinha outros.
Quando vim ao segundo Rumos, parecia que as conversas que em Janeiro tinham ficado a meio, foram retomadas no mesmo ponto em Março. E esta característica é algo que me tem acontecido sempre em cada Rumos. E eu nunca experimentei isto noutro lugar… Mas há sempre novidade, mesmo quando não vem ninguém de novo e ficam apenas os velhos que já se conheciam. Isto não é uma pasmaceira. Bem, voltando ao 2º Rumos: esse para mim foi um momento de viragem. Aí fiz a experiência toda: com missa e recreio com as irmãs. Esse meu Rumos prolongou-se um pouco mais, mas isso é outra história. Ao final do segundo Rumos, eu estava arrumado! Pronto, refazer os planos (e bendito seja Deus por isso) e entrar como Postulante para os Carmelitas Descalços porque é aí que o Senhor me quer. E eu acho que continua a querer, por isso já sou noviço.
Não sei se isto saiu alguma coisa de jeito, ou se saiu apenas uma nota biográfica de quem não tem uma vida minimamente interessante para escrever uma biografia. Mas deem-me só mais um bocadinho para duas notas:
O Rumos ajudou-me e ajuda (parece-me) todos quantos se deixam interpelar por Deus. Mesmo eu sendo o teimoso que sou, tive que me render às evidências. Quem vem livre, sem pré-conceitos, sem grandes expectativas, quem vem apenas para escutar o que Deus possa dizer, sai daqui muito feliz… Sai daqui outro.
Outra coisa que gostava de partilhar é que é mesmo muito bonito vermos o caminho que fazemos todos. O caminho é pessoal, claro, mas estamos todos na mesma estrada. Caminhamos juntos, ajudamo-nos mutuamente, alegramo-nos com o crescimento dos outros, num verdadeiro ambiente familiar. E quão bom é vermos pessoas que estavam completamente desarrumadas a ficarem arrumadas! Isso é extraordinário.
Fr. André Morais