Depois da montanha onde nasce o fogo, chegamos à mesa onde esse fogo aquece muitos. Uma mesa longa, preparada ao entardecer, com lugares vazios à tua espera. Cada lugar parece dizer: “há espaço para ti”. Muitos jovens vivem rodeados de gente, mas sentem-se sozinhos na multidão. Procuram lugar onde possam ser conhecidos pelo nome, onde não precisem de representar papéis, onde possam simplesmente estar. A fé cristã nasce como resposta a esse desejo: uma mesa sempre aberta, uma comunidade onde há lugar para todos.
O coração humano tem sede de pertença. Ninguém se realiza sozinho. E quanto mais cedo o percebemos, menos nos perdemos. Na juventude, esta sede é ainda mais forte: procuramos o nosso grupo, aqueles com quem podemos partilhar sonhos e quedas, esperanças e medos. O Evangelho mostra que Jesus nunca chamou discípulos para ficarem isolados. Sempre os reuniu em volta de si, sempre os pôs em relação. A fé não é uma aventura individual: é um caminho em conjunto.
O Carmelo também nasceu assim, como família. No monte de Elias, os profetas aprendiam juntos a escutar Deus. Séculos depois, Teresa não fundou ermitãs isoladas, mas comunidades de amigas em Deus. E é clara quanto ao estilo: amizade de todas com todas, sem ilhas nem favoritismos — “todas se hão-de amar, todas se hão-de querer, todas se hão-de ajudar” (Caminho 4,7). Para ela, a oração só é verdadeira se gerar comunhão. São João da Cruz também viveu profundamente a amizade espiritual: com Teresa, com companheiros de fundações e de comunidade, com pessoas que o procuravam em busca de conselho e luz. Para ele, a liberdade interior abria espaço para amar melhor na comunidade: mais disponível, menos centrado em si.
O Carmelo, hoje, é uma grande família espiritual. Há religiosas e religiosos, seculares e jovens que encontram neste carisma uma forma de viver a fé. Diferentes estados de vida, mas o mesmo coração: buscar Deus no silêncio, na oração, na fraternidade. O Carmelo mostra que a Igreja é uma casa onde cabem todos, um corpo vivo feito de diversidade e unidade.
A Bíblia chama a isto família de Deus: “já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos dos santos e membros da casa de Deus” (Ef 2,19). E em Atos lemos que “eram assíduos ao ensino dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2,42). Eram pessoas diferentes, vindas de culturas diversas, mas partilhavam tudo. A comunhão não eliminava a diversidade: dava-lhe sentido. Assim é também hoje. Cada jovem caminha ao seu ritmo, traz as suas perguntas, carrega a sua história. Mas juntos seguimos na mesma direção. A Igreja é um povo em peregrinação, e ninguém deve ficar para trás.
A juventude é tempo de procurar com quem se caminha. É tempo de grandes escolhas, mas também de riscos. Há quem opte por andar sozinho, acreditando que a autonomia é força. Mas cedo ou tarde descobre que o isolamento pesa e não leva muito longe. A vida espiritual precisa de companheiros que nos levantem quando caímos e nos animem quando hesitamos. Santa Teresa, enquanto jovem, experimentou isso em Ávila: com algumas amigas partilhava a fé, sonhava com um mundo maior, alimentava desejos de entrega. A fé, quando é partilhada, ganha raízes e cresce com mais força.
E tu, quem são os teus companheiros de caminhada? Quem te ajuda a rezar? Quem te incentiva a sonhar mais alto? Quem te impede de desistir quando tudo parece difícil? Estas perguntas são decisivas. A fé não se mede apenas pelo que fazemos sozinhos, mas também pelas mãos que nos seguram.
Começa com algo pequeno e em companhia. Podes, por exemplo, combinar com um amigo dez minutos de lectio divina, lendo juntos um trecho como Jo 15,12-15, guardando uma frase no coração, partilhando-a e terminando com uma breve oração. Também podes escolher um dia para rezar vésperas numa igreja ou até online com uma comunidade, deixando que a oração da Igreja se torne também a tua. E, se quiseres algo ainda mais simples, cria um duo de responsabilidade: ao fim do dia, troca mensagens com um amigo, partilhando uma gratidão e um pedido de oração. A fé cresce quando é partilhada. Até a oração pessoal ganha outra dimensão quando sabemos que alguém reza connosco.
Ao longo do caminho claro que surgem obstáculos. A pressa diz: “depois vejo” — responde com presença, mesmo que breve. A desconfiança sussurra: “ninguém me entende” — começa a abrir o coração aos poucos. A comparação rouba alegria — lembra as palavras de Paulo: “cada dom é necessário” (1 Cor 12). E vence-a servindo: oferece o teu tempo em algo simples na comunidade, desde acolher até cantar ou ajudar numa catequese.
Na mesa de Deus, não há lugares de honra ou reservados. Há espaço para todos. A comunhão não é uniformidade, mas encontro. O fogo interior de que falávamos no início da nossa caminhada não se apaga quando é partilhado: torna-se chama viva, ilumina mais e aquece melhor.
Na montanha onde nasce o fogo, descobrimos agora que não subimos sozinhos. Cada passo pede ombro e companhia. Teresa e João ensinaram-nos que a fé não é aventura isolada, mas amizade que se multiplica. O fogo que começa no íntimo do coração torna-se chama partilhada quando se encontra com outros. E é no meio desta comunhão que percebemos algo decisivo: Deus não chama multidões anónimas, chama-nos pelo nome e visita a nossa história concreta. No próximo encontro desta série, iremos deter-nos nesse olhar que personaliza, para escutar o nosso próprio nome, ler a nossa história com Deus e deixar que a oração a transforme em caminho.
Entretanto, toma esta determinação: nestes quinze dias, vive dois encontros de oração partilhada. A chama da fé cresce quando se reparte.
Oração
Senhor, Tu que nos chamas a ser família em Cristo, ajuda-nos a viver a fé como comunhão e não como solidão. Que a amizade de Teresa e a liberdade de João nos ensinem a caminhar juntos. E que Maria, mãe e irmã no Carmelo, nos guie para a Tua mesa onde há lugar para todos. Ámen.