Cresci numa família de operários, um pai carpinteiro e uma mãe cujo ofício se prende com a melhor arte que Felgueiras tem, o calçado, tive a melhor catequista, a minha mãe, mesmo antes até de entrar na catequese, o que me deu sempre muita vontade de estar envolvida na paróquia, como membro do grupo coral, acólitos, grupo de jovens, como catequista e até membro de um grupo de teatro musical católico onde vestia a pele da Mãe das Mães, a Nossa Senhora. Mas tudo o que parece ser prefeito, nem sempre o é, e todos nós que vivemos este tempo bem o sabemos.

A minha vida foi e é pautada por duras batalhas entre o bem e o mal, ou o que a sociedade impunha como bem, ou o correto e aquilo que para mim me fazia sentido, a minha verdade. Trabalhei desde cedo e queria “ser alguém”, focando-me apenas e só nos meus objetivos, sucumbindo a muitos dos prazeres e paixões que o mundo acaba por facilmente proporcionar a qualquer jovem, mas que me levou a revoltar-me contra a igreja e refugiando-me na errónea ideia que tantos empregam em si “eu cá tenho a minha fé”.

No entanto ainda se fazia sempre notar um sopro de esperança para mim, pois sem saber bem o porquê, apenas porque o sentia, largava quase tudo e ia. Levava malas cheias, que voltavam vazias, mas o coração esse, transbordava de gratidão, pelo ir. O ir em diversas vezes em missão, não se traduzia em gestos improvisados de boa vontade para colocar a minha consciência em paz, quando me fartava deste mundo parvo. Mas o ir, e numa última missão, foi perceber que o Amor é o que nos falta quando achamos que nos falta tudo e no regresso desta, largo tudo o que tanto lutei para TER, percebendo que me tinha esquecido do SER, e entro numa Congregação de Franciscanas em Fátima, na certeza que iria ser uma Irmã Franciscana Missionária. Esta minha verdade, certeza e objetivo mais que convicto rachou em aproximadamente 1 ano e sim, é isso mesmo que estão a pensar, eu era uma santa de pau oco, tao oco que rachei, mas enfim, o Amor não havia rachado e o encontro pessoal com a figura de Jesus jamais deixaria que mo roubassem. Entendi que não há certezas, mas há esperança e fé e querer tanto ficar em Fátima era apenas um ato de fé, era estar junto da maior Mãe e saberia que ela me ajudaria a entender no íntimo do coração, o que Jesus me pedisse. E em apenas uma semana o emprego veio, a casa veio e a vontade de cumprir o convite da Irmã Marta, para ir ao Rumos.

13 de abril de 2019, foi o dia que apesar de atrasada 15 minutos, entro num local onde vejo pessoas tão reais, tão verdadeiras, tão familiares, que no imediato crio empatia com a Teresa, aquela que me acolheu e que me abriu um pouco do livro da sua vida e isso foi entender que aqui estava a vontade de Deus e não a minha.

Neste dia, com aquelas pessoas, com estas pessoas, começo o maior exercício de escuta, de oração, de autoconhecimento, de humildade, da Verdade sobre o Amor de Deus por nós. E o meu caso custou, oh se custou, ainda tinha muitos resquícios de vaidade em manter a ideia de ser freira, mas as dinâmicas dos vários encontros do RUMOS não nos facilitam a vida e sim apanhamos com muitos “murros no estômago” e com muitas “reviravoltas” e ensinamentos e a mim, Deus não me quis poupar e coloca-me realmente à prova, melhor dizendo, mostra-me a expressão do seu Amor e vocação para mim, na personificação de um S. José e aí começo a perceber que não estamos aqui para ser felizes e pronto, estamos aqui para evoluir e aí a tua felicidade vem, aí o Amor de Deus é o que te preenche e nutre rumo à Santidade.

No RUMOS III disse o meu “SIM” ao matrimónio, mas como devem calcular depois de muitas partilhas, muita providência e não coincidência, de muitos sinais trazidos por mãos que cumprem a vontade de Deus e nos oferecem Felicidade e Amor e que teimamos e rejeitar ou desconsiderar. Ao dia de hoje, agarro este vocação como missão de vida e propósito de Deus para mim, aceitando que nada sei e que o RUMOS, ordenou-me as paixões, ao meu ritmo, pois no meu caso, precisava de transcender e abandonar todos os meus estereótipos estabelecidos, aqueles que assumi como verdade e entrar naquele que não tem modo e que é Deus, como nos fala S. João da Cruz. No RUMOS, com o silêncio, simplicidade de todos e vidas reais, ajudou-me a despir a Alma, porque só quando já nada resta entre nós e a vontade de Deus, é que se poderá dar a união com DEUS ao que chamo de AMOR. Até então o que habitava entre mim e Deus era um espaço cheio do ego, da moral, do correto, do orgulho, da dor, do medo, da vaidade, da vontade de mostrar por minha livre vontade, era o espaço repleto da sombra, um caminho de pedras.

E neste caso o RUMOS mostrou-me a Verdade, a pedagogia de Deus, “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.

Obrigada a toda a Família Carmelita, Casais, Padres e Irmãs, pelo vosso Amor, carinho e cuidado a cada jovem, a cada história vocacional.

Facebookmail