Servi o Senhor com alegria!

O meu nome é Francisco Maria, tenho 26 anos, e é com muita alegria que partilho um breve testemunho do meu percurso vocacional nos dias que antecedem a Profissão Solene que farei, juntamente com o Frei André, no próximo dia 28 de janeiro, no Santuário do Menino Jesus de Praga, em Avessadas.

Nasci em Viseu e lá vivi até aos 18 anos. Sou filho único e cresci no seio de uma família católica que desde sempre me introduziu na vida cristã. A questão vocacional sempre esteve presente ao longo da minha vida, pois desde pequenino dizia que queria ser padre.

A minha infância e juventude foram absolutamente normais. Sempre fui um rapaz que procurou cultivar amizades fortes e profundas. Apesar de filho único, jamais me imaginei só.

Quando dizia que queria ser padre, imaginava ser alguém totalmente disponível para os outros. No fundo, ser dom que se dá e partilha. Ser um dom de Deus para todos, sem exceção. Desconhecia, isso sim, a forma como poderia materializar esse desejo.

Depois de ter colocado de parte a vida diocesana, continuei em busca e pedi muito a Deus que, se assim fosse da Sua vontade, que me guiasse pelo seu caminho e eu pudesse, finalmente, encontrar um rumo para a minha vida.

E porque acredito que «o Senhor é bom para os que nele confiam, para a alma que o procura» (Lm 3,25), no final de 2014 conheci pela primeira vez o Carmelo Descalço.

Estávamos às portas da celebração do 5º Centenário do nascimento de Santa Teresa de Jesus (1515-2015). Dois carmelitas descalços foram a Viseu, diocese que não tem comunidade carmelita, para falarem da experiência incrível desta mulher do século XVI. O seu testemunho tocou-me de tal forma que não pude esconder aquilo que experimentei. Senti, e acredito, que o Carmelo Descalço surgiu na minha vida por pura graça e dádiva de Deus. Não podia calar as minhas inquietações, nem fazer uma “rasteira” ao Espírito Santo que havia colocado diante de mim aquilo que tão ardentemente e, sem o saber, desde sempre desejava.

O que sempre me fascinou no Carmelo – e ainda hoje me fascina – é o equilíbrio entre a nossa vida orante, fraterna e apostólica. No Carmelo a oração é central e vital. Meditar dia e noite na Lei do Senhor, como recomenda a nossa Regra, significa viver em contínua relação com o Deus vivo. Eu que sempre fui um rapaz de relações, sentia que o Senhor me chamava agora a uma relação mais intensa e exclusiva com Ele que se traduzia numa amizade profunda e transformante.

Por isso, a vida fraterna e apostólica dos carmelitas tem de partir sempre deste encontro permanente com Deus, de uma oração que é perene e não se esgota. Para um filho único, a proposta de uma vida fraterna baseada na alegria que experimentamos quando temos a Deus como único Senhor das nossas vidas, foi fantástica.

Participei nos primeiros encontros Rumos, em Fátima, que contam com a presença da família do Carmelo, composta pelas irmãs de clausura, os frades e os seculares. Estes encontros ajudaram a clarificar a minha opção vocacional, sobretudo pelo testemunho de comunhão que experimentei. No Carmelo experimentamos e vivemos o amor que se traduz em ser família e irmãos.

Depois de um percurso de discernimento vocacional, decidi pedir para entrar nesta família e iniciar a formação no Carmelo Descalço.

Entrei na comunidade do Porto no dia 8 de setembro de 2015, onde fiz o meu Postulantado durante dois anos. Em 2017, no dia 9 de agosto, tomei o hábito do Carmo em Fátima e iniciei o Noviciado. Também em Fátima, a 9 de agosto de 2018 professei com o nome de Frei Francisco Maria de São José juntamente com outros três irmãos.

Regressámos à comunidade do Porto onde concluí o curso de Teologia em 2022. Desde fevereiro do ano passado encontro-me na comunidade de Braga, junto de Nossa Senhora do Carmo e de Frei João d’Ascensão.

Desde outubro de 2021 que este “irmão mais velho”, o Santo Fradinho do Carmo, como é carinhosamente chamado pelo povo, tem sido um companheiro de caminho que muito me tem ajudado. A vida de Frei João d’Ascensão toca-me profundamente, pois foi um frade que, apesar das vicissitudes históricas que assaltaram o seu tempo, foi sempre fiel a Deus e à Senhora do Carmo e alegre no serviço generoso a todos.

Nas vésperas do grande dia, agradeço a Deus o seu amor e a sua presença na minha vida. Dou-Lhe graças pela minha família que sempre foi um apoio ao longo de toda a minha vida. Agradeço-Lhe todas as pessoas que colocou no meu caminho e que me ajudaram a clarificar o sentido que Ele quer para a minha vida.

Ao aproximar-se o dia em que darei o meu SIM a Deus nesta família do Carmelo Descalço por toda a vida, peço Àquele que me chamou que me dê a força e a ousadia de O servir sempre com alegria, de me fazer dom e pão partido por todos e para todos.

Peço-Lhe a fidelidade, pois sei que sou fraco. Contudo, conforta-me saber que Deus quer contar com a minha pobreza e fragilidade. N’Ele descubro as forças para ser fiel até ao fim, numa vida de serviço alegre e desinteressado, a exemplo da Virgem Maria, a Senhora e Mãe do Carmo, que com o seu escapulário e o seu olhar terno nos abençoa e nos acolhe em seu regaço.

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