Somos a Ordem dos Carmelitas Descalços (OCD) fundados por Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, no séc. XVI, em Ávila, Espanha. Os nossos fundadores criaram esta nova ordem a partir da tradição da Ordem do Carmo, que nos lega como Mãe, Irmã e Modelo de consagração a Virgem Maria, a Quem invocamos como Nossa Senhora do Carmo.

Nós, os Carmelitas Descalços, devemos o nosso nome ao Monte Carmelo, onde se instalaram alguns cruzados e peregrinos no fim da terceira cruzada, no ano 1192, com o desejo de viver uma vida eremítica naquele local bíblico, tendo como ideal de retiro e oração o profeta Elias, que muitos séculos antes, se havia instalado também nesta cordilheira, junto ao mar Mediterrâneo. Elias foi tomado não só como modelo, mas também como fundador e pai daquele grupo de buscadores de Deus. Estes eremitas seguiam a Regra de Vida que lhes deu Santo Alberto, patriarca de Jerusalém, chamando-se Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.

 

No Séc. XIII, devido aos sucessivos ataques dos muçulmanos, os carmelitas viram-se obrigados a voltar ao Ocidente, onde têm que adaptar a sua vida eremítica ao estilo de vida religiosa dominante: a mendicante. Nesta diáspora não lhes faltou o favor da Virgem Maria, que na pessoa de São Simão Stock lhes garante a sua proteção através do Escapulário. Depois do processo de adaptação, estes frades, além da oração constante, dedicavam-se ao apostolado, à pregação e à animação espiritual. No Velho Continente, aqueles eremitas vão fundar confrarias e Ordens Terceiras, animando e estimulando a vida espiritual dos que deles se abeiravam. Do desejo que as mulheres também manifestam pelos ideais daquela vida eremítica e mendicante, nasce o ramo feminino: as irmãs carmelitas.

É nesta rica tradição de eremitismo e de mendicidade, e no meio da efervescência económica, intelectual e religiosa que caracteriza o Século de Ouro espanhol que aparece a Ordem dos Carmelitas Descalços. É própria deste contexto a grande preocupação por voltar às origens da vida religiosa, por voltar a uma entrega a Deus mais radical, por unir-se a Ele por meio de uma oração mais pessoal, existencial e de poucas palavras. É esta preocupação que vive Santa Teresa de Jesus, irmã consagrada na Ordem do Carmo, uma mulher de grande e profunda vida interior. Teresa experimentou que a oração “não é mais do que uma relação de amizade, estando muitas vezes a sós, com Quem sabemos que nos ama” (V 8, 5).

Foi nesta relação de amizade que descobriu a missão que “Jesus de Teresa” tinha para “Teresa de Jesus”: criar uma família religiosa que tivesse como única preocupação ser “amigos fortes de Deus” (V 15, 5), através do trato de amizade com Ele. Por isso, pede as devidas autorizações para fundar novos conventos de irmãs carmelitas, que acabariam por levar o nome de carmelitas descalças. “Descalços” era um termo comum para designar os movimentos de reforma das ordens antigas naquela época. Estas comunidades de “amigos fortes de Deus” necessitavam, segundo a intuição de Teresa, de umas determinadas condições que favorecessem o trato de amizade com Deus: casas e comunidades pequenas; pobreza; vida comunitária e oração intensa; e ambiente propício ao silêncio. Assim, fundou em 1562 a primeira comunidade de irmãs Carmelitas Descalças em Ávila, onde se cultivavam os valores da amizade, humildade, desprendimento, simplicidade e determinação de imitar a Virgem Maria no seguimento de Jesus.

A partir da convicção de que tinha recebido um carisma para dar ao mundo, Santa Teresa percebe que é necessário dar mais um passo e criar o ramo masculino. Os Carmelitas Descalços organizam-se para viver o carisma que já viviam as Carmelitas Descalças e para ajudar as suas irmãs no desenvolvimento da sua vida espiritual. Contudo, surgem com uma característica que lhes dá uma identidade própria: viver aquele silêncio orante no meio da atividade apostólica, procurando conciliar os momentos de contemplação com a missão. Teresa de Jesus encontra-se com o então João de S. Matias, frade da Ordem do Carmo, que também desejava seguir a Cristo de forma mais radical e evangélica. A partir do diálogo entre os dois, da partilha de experiências e preocupações, de alegrias e tristezas, João apaixona-se pelo novo estilo de vida que lhe apresenta Teresa e decide aderir aos seus projetos de ajudar a criar o ramo masculino da descalcez carmelita, onde adotará o nome religioso de João da Cruz. A primeira comunidade masculina é fundada em Duruelo, província de Ávila, em 1568.

Uns e outros, irmãs e frades, decidem-se a ser mais fiéis ao espírito da Regra Primitiva de Santo Alberto de Jerusalém, formando comunidades orantes e fraternas, onde se respirasse um verdadeiro espírito evangélico. Às irmãs é-lhes pedido que se dediquem à oração e contemplação, levando no seu coração as grandes necessidades da Igreja e do Mundo; aos frades, é-lhes pedido que vivam o mesmo ideal de amizade e intimidade com Cristo na oração, mas que também O anunciem onde for mais necessário pelo testemunho e pela pregação.

Com o desejo de viver esta mesma espiritualidade, mas totalmente inseridos na sociedade, surgem os carmelitas descalços seculares, ou leigos carmelitas descalços, com três grandes orientações para a sua vida, que assumem como compromisso na sua consagração no Carmelo Descalço: a oração pessoal e comunitária, a vida em fraternidade e o testemunho cristão na família e na sociedade.

O carisma carmelita descalço está fortemente marcado pelos ideais da comunhão fraterna e da oração fecunda e apostólica. Também é parte da nossa identidade a contemplação de Deus, o amor e a imitação da Virgem Maria e S. José, que haveriam, segundo o desejo de Santa Teresa, inspirar e proteger a vida das comunidades e fraternidades carmelitas. Desta forma, nos nossos dias, o Carmelo Descalço pode ser uma Casa e Escola de Comunhão com Deus e entre os irmãos convocados a partilharem a vida, seja nos conventos, seja nos grupos de leigos, formados por jovens, adultos e famílias.

Como comunhão de uma única Família, em três ramos, todos assumem, segundo a sua especificidade própria, o compromisso de serem um testemunho alegre da íntima comunhão com Deus e com os irmãos. Deste modo, vão transbordando para o mundo a abundância do amor que Deus derrama em seus corações pela oração, entendida como trato amigo e contínuo com Cristo.