Chamo-me David e tenho 32 anos. Sou natural de Aveiro, mais propriamente da Gafanha da Nazaré. Estou nesta maravilhosa família dos Carmelitas Descalços há cerca de ano e meio. Fui solicitado para dar um testemunho sobre a minha caminhada vocacional e aqui estou para dar o meu melhor.

Nem toda a minha família é crente e praticante. Quem me ajudou na minha formação cristã foi sobretudo a minha avó. Fiz a minha catequese até aos treze anos, abandonei-a e só fiz o sacramento do Crisma mais tarde, aos vinte e oito anos. No entanto, já desde pequeno tinha sinais de que Jesus me amava e chamava, só que a minha leviandade e cegueira fez-me afastar d´Ele por algum tempo. Quis deixar a casa de meu Pai e ir esbanjar tudo o que tinha direito, em coisas supérfluas (Cf. Lc 15, 13-14). Na minha adolescência, estive completamente afastado da Igreja e de Jesus. Andei por outras paragens que não me preenchiam completamente. Só mais tarde, vim a descobrir que aquilo que me satisfazia verdadeiramente habitava dentro de mim. Revejo-me nesta passagem de Santo Agostinho: «Durante os anos de minha juventude, pus o meu coração em coisas exteriores que só me faziam afastar cada vez mais d’Aquele a Quem o meu coração, sem saber, desejava… Eis que estavas dentro e eu fora!». (Santo Agostinho, Confissões 10).

Com estes traços do meu passado juvenil, posso dizer com toda a sinceridade que a descoberta da minha vocação e entrada na Ordem dos Carmelitas é um autêntico “milagre”. A minha conversão tardia foi conquistada pelo grande amor que Deus teve e tem para comigo, levando-me a saborear a Sua grande misericórdia. Este “toque delicado de Deus na minha alma” (S. João da Cruz, Cântico Espiritual 1, 17) despertou-me para a Vida Consagrada. A quem muito se perdoa muito se ama (Cf. Lc 7, 40-43) e então só poderia deixar tudo por Jesus, porque me perdoou muito.

Portanto, o que me trouxe a esta família, primeiramente, foi o Amor por Jesus, Ele é todo o sentido da minha caminhada, sem Ele, como centro, não teria esta vontade de O servir. Foi Jesus que me convidou para deixar as redes e ser pescador de homens (Cf. Lc 5, 10-11). Sim, foi sempre este o meu pensamento, a partir do momento que o Senhor me converteu: ajudar os homens e mulheres que nunca ouviram falar de Jesus. Sempre tive o gosto de poder ajudar aqueles que mais precisam.

Quando senti este chamamento, comecei a procurar alguém que me ajudasse. Na fase do discernimento ainda fiz experiências noutras Ordens Religiosas. Contudo, Deus guiou-me até à família carmelita, abrindo-me as portas do Convento de Nossa Senhora do Carmo, em Aveiro. Comecei por fazer parte de um grupo de oração carismática, que reunia semanalmente neste Convento. O contacto com a comunidade dos frades levou-me então a fazer uma primeira experiência vocacional nesta comunidade. Comecei a falar com o sacerdote da comunidade que me apresentou ao Provincial. Este santo frade ajudou-me a encontrar o melhor caminho que respondia às minhas inquietações mais profundas e convidou-me a participar no encontro vocacional chamado “Rumos”. Tinha então aproximadamente vinte e nove anos. Entretanto, estive sempre acompanhado por outro homem santo, um bom diretor espiritual e amigo que foi guiando a minha alma nesta nova fase. Recordo-o sempre com muita saudade. Deixou-me marcas tão positivas que jamais esquecerei. Que Deus o tenha junto de Si pois já o chamou à Sua presença.

Os encontros do “Rumos” vieram trazer as respostas a tudo quanto procurava na Vida Consagrada. A minha vontade de ser religioso clarificou-se com os encontros que fomos realizando. Aos trinta e um anos fui para a minha primeira comunidade carmelita, no Porto, onde estive durante um ano como postulante enquanto frequentava o primeiro ano de estudos académicos. Quando terminou, comecei com mais 3 jovens irmãos carmelitas uma nova etapa, o noviciado, na comunidade carmelita de Fátima e por aqui estou a consolidar e a tentar responder da melhor maneira ao chamamento que Deus me fez.

Muito mais tinha a dizer, mas fico por aqui. Peço humildemente que rezem por mim e por todos nós e por todos aqueles que nos vão formando neste caminho de seguimento de Jesus, segundo o estilo de Santa Teresa de Jesus e S. João da Cruz e tantos outros mestres do Carmelo. Peço a Deus uma bênção para quantos lerem estes breves quadros da minha vida, e a Maria que invocamos como Senhora do Carmo, que vos proteja. Um bem-haja!

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